Há duas semanas, meu marido e eu tivemos uma discussão em nossa cozinha. A situação continuou escalando, então saí furiosamente para organizar meu armário —minha versão de uma estrela do rock destruindo um quarto de hotel.
Quando voltei à cozinha para pegar papel-toalha, meu marido apontou para nossa janela como se nada tivesse acontecido. “Olhe aquilo!”, ele disse. “Acho que é uma [ave] corruíra-da-carolina.”
Ele faz isso com frequência. Acho frustrante, mas também cativante: ele deseja desesperadamente seguir em frente.
De acordo com o psicoterapeuta Antonio Quirindongo Jr., especializado em relacionamentos LGBT, a observação de pássaros feita por Tom é uma tática de evitação. O que isso transmite, ele diz, é “‘sinto desconforto, quero sair dessa situação, e veja, tem um pássaro”.
Quando você discute com seu parceiro, a ressaca emocional pode deixá-lo abalado, ressentido e inseguro sobre como se reconectar. Mas especialistas afirmam que existem passos claros que você pode dar para seguir em frente.
FAÇA UMA PAUSA
Uma discussão com um parceiro “muda a química em nossos cérebros e corpos”, diz Galena Rhoades, psicóloga da Universidade de Denver e coautora de “Lutando por seu Casamento”.
Nessas situações, ela diz, sua resposta de luta ou fuga é ativada, aumentando a frequência cardíaca e liberando hormônios como o cortisol, o hormônio do estresse. Essa inundação emocional dificulta pensar ou se comunicar logicamente.
Portanto, reserve pelo menos 30 minutos para se acalmar e “voltar a um estado no qual você possa pensar mais racionalmente”, ela diz.
Diga ao seu parceiro que você está fazendo uma pausa e estime quanto tempo isso levará, para que fique claro que não se trata de uma punição.
PEÇA DESCULPAS
Após uma discussão, diz Rhoades, você geralmente precisa lidar com duas questões: a situação que iniciou a briga “e a mágoa que veio com quão acaloradas as coisas ficaram”.
Aborde a mágoa com um pedido de desculpas. Mesmo que você sinta que está completamente certo, geralmente é possível encontrar maneiras pelas quais você contribuiu para a briga, afirma A. Jordan Wright, professor de psicologia na Universidade de Nova York. Um pedido de desculpas, ele diz, “sinaliza para a outra pessoa que você está sinceramente tentando reparar, não apenas tentando varrer o problema para debaixo do tapete”.
TENHA UMA ‘CONVERSA DE ENCERRAMENTO’
Depois que ambos se acalmarem, chame seu parceiro para uma “conversa de encerramento” na qual vocês poderão fazer uma análise da discussão.
Rhoades recomenda a técnica de orador-ouvinte, que ajuda os casais a se comunicarem de forma mais eficaz. Uma pessoa fala e, em seguida, a outra parafraseia o que foi dito. Revezem-se. Usem frases curtas e não interrompam um ao outro.
Também é importante se manter no assunto e não desenterrar velhas queixas.
Se a situação continuar tensa, faça outra pausa e tente novamente mais tarde, diz Rhoades. Às vezes um problema requer mais de uma conversa.
E se o seu parceiro parecer receptivo, ofereça um pequeno sinal de afeto —seja uma piada gentil, um sorriso tranquilizador ou um gesto físico.
“Cada casal tem sua própria linguagem para comunicar que as coisas estão bem”, diz Wright, que conta ainda que ele e o marido fazem questão de se abraçar ao final de uma discussão.
Quirindongo Jr. diz que, após uma sessão de terapia difícil, ele costuma perguntar aos seus pacientes: “O que você pode fazer para ‘limpar seu paladar’?”.
Isso funciona bem após uma discussão. Pode ser uma atividade que ambos gostem —caminhar, sair para jantar ou assistir a um filme— e que poderá fortalecer o vínculo. “Pode ser apenas um abraço ou talvez sexo”, sugere.
Na próxima vez em que Tom e eu tivermos uma discussão, tentaremos seguir esses passos. Algumas horas após o comentário sobre o pássaro, a paz foi finalmente restaurada quando Tom me deu um café gelado e um prato de biscoitos.
Rhoades diz que aprova gestos como esse —”ele está comunicando que se importa com você e que está nisso com você”.
Ela está certa. Estamos juntos há 25 anos, e Tom sabe que um prato de biscoitos é minha linguagem de amor. Nós os comemos juntos em silêncio, algo que inicialmente foi constrangedor, mas que logo se tornou amigável.