Transtornos mentais podem levar a agressividade – 14/11/2025 – Equilíbrio e Saúde

Na semana passada, o ex-deputado Paulo Frateschi foi morto pelo filho, Francisco, que tem diagnóstico de transtorno bipolar. Familiares e o médico que acompanhavam o tratamento afirmaram que o crime ocorreu durante um surto psicótico.

Pessoas com transtornos mentais severos, como o TAB (Transtorno Afetivo Bipolar), psicose e neurodivergência podem experienciar episódios de agressividade que impactam suas vidas e a de familiares.

Embora a violência possa aparecer em quadros de crise, especialistas reforçam que esse tipo de reação não é regra entre pessoas com transtornos mentais.

“Pelo contrário, tem algumas características da esquizofrenia, da psicose, que a gente chama de pessoas mais embotadas, que ficam mais quietas, isoladas no delírio delas e com pouca interação social”, diz a psicóloga e gestalt-terapeuta Carla Linarelli.

Ela complementa que alguns casos também envolvem uma agitação psicomotora, que pode gerar reações ao ambiente. “Com a atenção da família podem ser elaboradas estratégias [para lidar com as crises]”, diz, reforçando que não é porque uma pessoa apresenta um quadro que vai agir igual a outras com o mesmo diagnóstico.

O psiquiatra Daniel Barros, do IPq da USP (Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo), concorda que casos de agressividade podem acontecer, mas não são a maioria. “Existe mais chance do paciente psiquiátrico ser vítima de violência do que de ser violento”, afirma.

Adriana Menezes, 43, é mãe de quatro crianças com TEA (Transtorno do Espectro Autista). Ela conta que um de seus filhos, que tem um nível de suporte maior relacionado ao diagnóstico, tem episódios recorrentes de agressividade.

Adriana é mãe solo, já lidou sozinha com diversas crises do filho e acabava sendo agredida. “Quando ele vinha para cima de mim, eu pensava: ‘Deus, me ajuda’. E se você revida, pode perder o controle, e não adianta. Falar também não adianta.”

Com o tempo, ela foi aprendendo a redirecionar a atenção do filho para outras coisas no início dos episódios. Hoje, com 13 anos, ela afirma que ele está muito melhor.

Adriana conta que seguir dicas de profissionais na internet a ajudou muito, mas, desde que se mudou para São Paulo, ela contou com a ajuda de um Caps (Centro de Atenção Psicossocial) e hoje conseguiu atendimento para os filhos em um ambulatório especializado em autismo.

Linarelli, que atuou por seis anos como coordenadora de um Caps Álcool e Drogas, recomenda se atentar a sinais que precedem a crise, como agitação psicomotora e aumento do volume da voz, por exemplo.

“É importante que as famílias vivam os processos que a gente chama de piscoeducação, que os Caps e centros de saúde normalmente oferecem e são grupos para orientar esses familiares de como lidar”, diz a psicóloga.

O psiquiatra Daniel Barros diz que, durante a crise, se for possível, o familiar deve levar a pessoa para um atendimento profissional. Se ela estiver muito agressiva, deve-se chamar um atendimento de urgência e evitar tentar manejar sozinho o episódio.

Além disso, não é recomendável responder “na mesma moeda”. “Enfrentar, falar com hostilidade, tentar manejar a agressividade sendo mais agressivo pode acabar levando ao escalonamento”, diz.

Segundo o médico, viver esses episódios com recorrência pode gerar instabilidade, ansiedade, irritação, que pode inclusive levar a uma espiral de crises.

A psicóloga diz que o modo como a família olha para a pessoa com transtornos psicológicos também impacta. Por exemplo, se ela é tratada como incapaz de fazer as coisas por si ou conviver socialmente, a sobrecarga acaba sendo maior. “Vai gerando muitos sentimentos, dá raiva, dá sensação de incapacidade e de culpa. É importante ter acompanhamento também para os familiares“, diz.

Adriana conta que ter de cuidar dos filhos com autismo sozinha e lidar com as agressões e o estigma afetaram a sua saúde mental. “Cada vez que ele me batia e me machucava, a dor não era no corpo, era na alma”, desabafa.

Ela então encontrou apoio na organização PAC (Projeto Amigos da Comunidade), que oferece grupos de apoio e atendimento psicológico. “Eu preciso cuidar de mim”, diz. Quando começou a olhar para si, ela até começou uma faculdade de Serviço Social e espera no futuro poder estudar também terapia ocupacional.

Vinícius Ribeiro Pinto, psicólogo especialista em saúde pública e da família do PAC diz que o atendimento é pensado para toda a família. “Não adianta fazer um encaminhamento só para a pessoa que está sofrendo aquele momento psíquico”, afirma.

Ele diz que trabalhar com a família ajuda a regular o ambiente e, consequentemente, a melhorar os momentos de crise e que é preciso também realizar o acolhimento da família envolvida para que elas possam se expressar sobre o que sentem e diminuir o estigma envolvido.

Autoria: FLSP

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